A influência da alimentação nas Emoções

Junho 25, 2019 sem comentários daniela Categories Blog, Cozinhar com Amor

Hoje, é muito comum ouvirmos falar de fome emocional e de como as emoções influenciam a nossa alimentação. Essa relação existe, no entanto, seria interessante falar-se também da relação inversa. Ou seja, sobre o modo como os alimentos influenciam o nosso funcionamento emocional e intelectual.

É verdade que as nossas emoções têm um efeito poderoso na escolha dos alimentos e nos nossos hábitos alimentares. Mas, o contrário também o é.

Existe uma correlação entre a prevalência de doenças do foro mental e as alterações da alimentação com a industrialização da comida. Parece haver uma conexão entre determinadas carências nutricionais e algumas perturbações emocionais. Por exemplo, a falta de ferro e ómega 3 parece que aumenta a vulnerabilidade à depressão e à ansiedade. O excesso de açúcar, por sua vez, tende a provocar agitação e falta de concentração.

O que comemos influencia o que sentimos, o que pensamos e como nos comportamos.

Quando ingerimos algo, esse algo irá de alguma forma fazer parte de nós. Primeiramente entra na nossa corrente sanguínea e alimenta todas as nossas células e tecidos, inclusive as células do nosso sistema nervoso. Isso influencia a qualidade dos nossos pensamentos e até a forma como percecionamos o mundo e interagimos com ele. É fácil de perceber, se vos der um exemplo, bem simples e que quase todos já experimentaram.

Ingerir álcool, apanhar uma bebedeira ou ficar animado com um copo de vinho. O álcool, é um açúcar de absorção rápida, que como os demais alimentos, entra na nossa corrente sanguínea, e nutre de açúcar todas as nossas células, inclusive as do sistema nervoso. Quando estamos embriagados, muitas vezes temos uma perceção bem diferente do mundo e de nós próprios. Os tímidos ficam ousados, os ousados ficam introvertidos e a forma de interagir com o mundo muda, pelo menos momentaneamente. A influência do que comemos no que pensamos, como interagimos com o mundo, está sempre presente, embora a velocidade a que ocorre por vezes é lenta (se compararmos com o álcool) para que percebamos as mudanças que ocorrem.

Com os açucares simples, ou de absorção rápida é demasiado evidente. A glicose, vulgo açúcar, é o principal combustível do cérebro. Quando em excesso ou em carência acabam por se traduzir em desequilíbrios emocionais e do comportamento. As farinhas e açúcares refinados, além de serem pobres nutricionalmente, por terem perdido fibras, vitaminas e minerais, são açúcares de absorção muito rápida. Estes açúcares, entram muito rápido na circulação sanguínea, tal como o álcool, e vão levar uma libertação brusca de insulina que armazena quase de imediato este açúcar dentro de cada uma das células. O resultado são células com uma carga energética (açúcar) muito alta, o que conduz, por exemplo, a sintomas de hiperatividade em crianças e a ansiedade nos adultos.

Este armazenamento no interior das células, tem o reverso da medalha, leva a que glicose saia da circulação sanguínea repentinamente, pelo que o organismo começa a produzir glicagina, que provoca sensação de fome voraz, irritabilidade, falta de concentração e diminuição da capacidade cognitiva. É quase um ciclo vicioso!

Todos os alimentos processados, pastelaria, doces, chocolates, sumos e refrigerantes são as principais fontes de hidratos de carbono simples, isto é, de açucares de absorção rápida, pelo que o melhor mesmo é evitá-los.

Por outro lado, se os açucares forem de absorção lenta, como os hidratos de carbono complexos dos cereais integrais, vegetais e leguminosas o efeito é bem diferente. Por serem complexos, estes hidratos de carbono apresentam índice glicémico muito mais lento o que promove estabilidade e um aporte de glicose regular em todos os sistemas do nosso corpo. Além de estes açucares serem de absorção lentam estão carregados de vitaminas e minerais, contribuindo para o bom funcionamento do cérebro (atenção, memória, concentração) e na manutenção de níveis de energia adequados, tanto em crianças como em adultos, o que leva a uma estabilidade emocional.

 

A grande quantidade de gordura existente na alimentação ocidental atual é também motivo de preocupação. A maioria das gorduras consumidas são saturadas, polinsaturadas (ómega-6, em excesso) e as gorduras trans. A ingestão em excesso destas gorduras, não só promove a obesidade e doenças metabólicas, como prejudica o funcionamento adequado do cérebro resultando na redução das capacidades intelectuais, como a memória e a concentração, e alterações do humor, como a ansiedade e depressão.

As vitaminas e minerais são micronutrientes fundamentais que possibilitam inúmeras reações no nosso organismo, a construção e reconstrução de tecidos, inclusive do cérebro e sistema nervoso. As vitaminas participam na conversão de glicose em energia, na produção de serotonina (o neurotransmissor da felicidade), da melatonina (regulador do sono) e da acetilcolina (potenciador da memória). Assim, um aporte inadequado de vitaminas pode resultar num QI abaixo do seu verdadeiro potencial, numa memória fraca, em cansaço, tonturas, défice de atenção e concentração, falta de motivação e depressão, tanto em crianças como em adultos.

Os vegetais e frutas são fontes alimentares por excelência de vitaminas do complexo B, e vitaminas C e E, que com as suas funções antioxidantes protegem as células dos radicais livres. A vitamina E, lipossolúvel, é a principal protetora a nível cerebral e está presente em vegetais de folha verde, sendo mais predominante em óleos vegetais, sementes e leguminosas.

Os minerais como o magnésio, zinco, selénio, cálcio, ferro e outros são essenciais para a saúde emocional. O magnésio desempenha um papel fundamental na obtenção de um estado de calma e um sono de qualidade, sendo que o seu défice está associado a indivíduos nervosos, irritáveis e agressivos.  O zinco está envolvido na manutenção do cérebro, nomeadamente na produção de serotonina e melatonina e na prevenção da oxidação celular. A carência de zinco está envolvida numa grande variedade de problemas de saúde, como a hiperatividade, o autismo, a ansiedade a depressão. O ferro, juntamente com a vitamina C e vitaminas do complexo B, nas doses adequadas, têm demonstrado reverter sintomatologia associada à depressão, bipolaridade, apatia e distúrbios alimentares.

Estes são apenas alguns exemplos do efeito da alimentação na nossa saúde física e emocional. Tudo o que comemos influencia a forma como sentimos e nos comportamos. Um exemplo que dou muitas vezes é a de compararem dois amigos. Um com uma alimentação tendencialmente de origem vegetal e outro, com uma alimentação tendencialmente de origem animal. O comportamento de ambos perante a mesma situação é diferente. O amigo que come maioritariamente vegetais, tem naturalmente um comportamento mais sereno, mais tranquilo e aparentemente mais passivo. O outro amigo, que come em maior quantidade produtos de origem animal, tende a ser mais inquieto, a estar sempre pronto para ação, a estar aparentemente mais ativo. Assim, fica fácil de perceber que o que comemos não afeta só o nosso corpo físico, como afeta as nossas emoções e o nosso comportamento.

Vejamos as emoções. Todos nós temos determinadas tendências por exemplo quando estamos tristes. Muitos deixam de comer, outros comem desmesuradamente para compensar essa tristeza. As nossas emoções têm um efeito poderoso na escolha dos alimentos e nos nossos hábitos alimentares. O que comemos afeta a forma como nos sentimos, assim como o que sentimos afeta nossa maneira de comer.

A melhor forma de ter um sistema nervoso equilibrado, assim como emoções equilibradas, do ponto de vista alimentar é adotar hábitos alimentares saudáveis, com grande variedade de alimentos, preferencialmente de origem vegetal, com incidência em cereais integrais, frutas, produtos hortícolas, leguminosas e sementes. A variedade de alimentos, acarreta consigo variedade de nutrientes, o que levará a que não ocorram deficiências de nutrientes no nosso organismo. Concomitantemente a esta variedade, os alimentos escolhidos devem ser o mais possíveis locais e sazonais, pois como sempre digo, a natureza faz tudo certo. Tudo cresce no local certo e na altura certa, para nos fornecer todos os nutrientes necessários para nos adaptarmos a esse local, nessa altura. Outra recomendação é que os alimentos sejam preferencialmente biológicos, isto porque além de não possuírem pesticidas são mais ricos em nutrientes do que os de agricultura convencional.

É claro que a alimentação não engloba apenas os alimentos que ingerimos. Tal como digo muitas vezes, engloba o que pensamos, o que sentimos, o que ouvimos, o que respiramos, o que vivemos, …. Enfim engloba todas as áreas da nossa vida, embora a mais fácil de controlar seja a que colocamos no prato.

Fica aqui, uma pequena receita de um sumo carregado de energia vital, apreciado cá em casa e também pala minha querida amiga Rute Cadeira, tanto que foi uma das receitas escolhidas por ela para fazer parte do meu livro “Cozinhar com Amor”.

Sumo Vital

Ingredientes:

  • 1 banana
  • ½ abacate
  • ½ Cenoura
  • 1maçã
  • 1 colher de sopa de Aveia
  • 2 nozes
  • 1 colher de chá de canela
  • 1 copo de água

Colocar tudo no liquidificador e triturar. Em poucos minutos tem um sumo rico em fibras, vitaminas, minerais, hidratos de carbono, açucares e energia vital, que deixa qualquer pessoa saciada e nutrida. Deve ser consumido de imediato.

Atreve-te a ser diferente!

Alimenta-te de uma forma consciente!