Índia Sul – Sol, Silêncio e Ser – Fevereiro 2018

Fevereiro 25, 2018 sem comentários daniela Categories Blog

Índia Sul – Sol, Silêncio e Ser

Viagens com Alma

Índia Sul é sempre um destino que estou disposta a repetir. Há 3 anos atrás viajei para aqui pela primeira vez, com a Zen family e fiquei rendida. Paisagens de tirar o fôlego, clima tropical, pessoas cativantes, culinária exótica são só alguns dos itens que posso nomear desta viagem com Sol, Silêncio e Ser.

Fiquei tão cativada, que nesse mesmo ano, casei com o Luís Baião, novamente, uma vez que tínhamos casado uns dias antes em Sintra, nos imensos arrozais desta zona, tendo como tela de fundo um magnífico pôr-do-sol. Foi aqui que começamos a celebrar a nossa união todos os anos, em destinos diferentes.

Nesta rota da Zen Family, da qual tenho o privilégio de fazer parte e de ser responsável pela alimentação de todo grupo, através da aBiofamily, vive-se tranquilidade, com um contacto intenso com a natureza, praia e montanha na mesma viagem, uma cultura preservada e marcante, espiritualidade e crenças de cada religião que por aqui coexiste de forma harmoniosa, e claro, pessoas doces, humildes e autênticas que fazem a nossa experiência algo especial. É uma viagem pelas belezas do mundo exterior, sem esquecer da beleza do vasto mundo interior.

Esta rota, detalhadamente escolhida pelo nosso querido Luís Baião, o nosso líder e guia, com uma vasta experiência em viajar, uma vez que o faz há mais de 20 anos, que nos brindou todos os dias com os seus poderosos briefings, muitos deles autênticas palestras de desenvolvimento pessoal e que nos ajudaram a integrar todas as experiências, passou pelos seguintes locais:

Fort Kochi

Fort Kochi é uma região de Kochi – Kerala, na Índia Sul. É uma zona que pertence a um conjunto de regiões ligadas à água e que colectivamente são conhecidas como Kochi Velho.

O nome Cochin (Kochi) implica “co-chin”, que significa “como a China”. Isto porque no século 14 parecia China, quando os chineses vieram para a região e instalaram redes de pesca chinesas, que ainda hoje são utilizadas e viraram também um atractivo turístico. Tivemos oportunidade de aprender e ajudar estes pescadores a manobrar estas redes fixas, que se manobram com um sistema de conta-pesos. Pescamos apenas dois pequenos peixes que ficaram para o seu almoço.

Falando em pesca e em mar, falemos da nossa História. Vasco da Gama, como todos os Portugueses sabem foi o descobridor do caminho marítimo para a Índia, a partir da Europa, claro! Este nosso navegador tem a sua história muito ligada a Kochi, pois foi um local que visitou mais que uma vez. Reza a história que foram três vezes e que na sua última visita abandonou este mundo. Assim, como autênticos navegadores, nós descobrimos novos caminhos nas Índias.

Navegamos de outras formas, sem caravelas, mas com muita aventura, ousadia e coragem… entramos e mesclamo-nos na essência do povo, nas cores, nos sabores e no nosso ser. O grupo, apesar de acabado de chegar entregou-se à magia e ao glamour dos contrastes desta Índia. A sabedoria começou a revelar-se em cada partilha.

Os dias foram intensos e variados, tendo havido tempo para tudo, desde lazer a visitas culturais: redes de pesca chinesas, Igreja de São Francisco (onde foi primeiramente sepultado o nosso famoso navegador Vasco da Gama), a Basílica de Santa Cruz e a escola das crianças, a fábrica de gengibre, as vivências com o povo, não esquecendo a gastronomia rica e diferente desta zona do mundo.

Como a comida é algo que me apaixona, com a preciosa ajuda dos Chefs Indianos, “invadi” a cozinha e juntos conseguimos levar todos os viajantes numa viagem gastronómica, numa fusão de sabores entre o oriente e o ocidente. Depois das várias degustações, com que brindamos todos os viajantes, terminamos os dias com uma palestra. Um com a minha pessoa, sobre “O que é a Alimentação?” Posso vos dizer que é muito mais do que apenas alimentar o nosso corpo físico, é alimentar todo o nosso ser e em todas as suas dimensões. E outro com o querido Alexandre Gama, que nos acompanhou nesta viagem e nos brindou com palestras de Feng Shui e Ki das 9 estrelas.

Munnar

Esta zona está situada na região conhecida como “montanhas azuis” do sul da Índia, que, tal como Assam e Darjeeling, são regiões de cultivo da planta usada para fazer os chás: preto, verde e branco – a Camellia sinensis. Esta planta foi trazida pelos Ingleses, da China, e hoje é imensamente popular no país.

Como já perceberam, é uma zona montanhosa e marcada pelas vastas extensões das plantações de chá, bungalows coloniais, riachos, cascatas e clima fresco. É também um destino ideal para sentirmos a natureza na sua imponência e lavar a nossa alma com ela.

Rumamos para esta natureza, embrenhamo-nos com o povo sentindo o vibrar intenso de cada olhar, de cada sorriso, a generosidade e autenticidade de cada um de nós com cada pessoa que connosco se cruzou. Fizemos compras nos bazares tradicionais, aprendemos a vestir saris. Vestimos e ajudamos a vestir de uma forma serena e divertida. Foi muito bom e engraçado, fazermos esta transformação juntas. Uma transformação exterior que teve ressonância no nosso interior. O resultado foi soberbo! As cores realçaram a beleza individual de cada uma de nós. Vestimos “outra pele” e sentimo-nos cada vez mais indianos, a fluir pela cultura de cada região da Índia Sul. Não foram só as meninas que se transformaram! Os meninos também vestiram o traje tradicional masculino, desta zona, o dhoti. O dhoti é a mais típica roupa masculina da Índia. Consiste num longo pedaço de tecido (uns 4-5 metros), tradicionalmente branco, mas que hoje se usam de todas as cores, que o homem enrola na cintura como uma saia.

Com esta “nova pele” celebramos o aniversário do meu casamento com o Luís. Não poderia ter sido melhor. Foi uma celebração intensa, emotiva, espontânea, diferente e como alguém dizia, maluca com direito a ritual no fogo e tudo.

Mas, para conhecer Munnar e as suas grandes plantações de chá, temos sempre que fazer uma paragem obrigatória no Museu do Chá. Esta foi uma paragem muito enriquecedora que nos envolveu imenso, por todo o conhecimento que nos passou acerca do chá. Este museu tem um legado próprio no que respeita às origens e à evolução de plantações de chá. A mesma planta, a Camelia Sinensis, dá 4 tipos de chá, que na verdade são 3, porque 2 deles são chá preto, um é verde e o outro é o famoso chá branco. O processamento é que varia e dá diferentes características ao chá. É alquimia pura, como todos nós fazemos nas nossas cozinhas.

Estes dias tiveram tantas coisas boas. Alem de sairmos mais ricos com as palestras de desenvolvimento pessoal (comigo, com o Alexandre Gama e com o Luís Baião), com que a Zen family nos brinda, saímos mais ricos com todas as experiências que a organização nos proporcionou. Andamos de jipe pelas plantações de chá e especiarias a sentir a energia da montanha e tudo o que a envolve. Soltamos a nossa criança interior exploramos árvores centenárias, trilhos para nós desconhecidos e até nos permitimos andar de baloiço como fazíamos na nossa infância. A natureza brindou-nos sempre com o que mais de belo existe, como sempre o faz!

Até tive oportunidade de facilitar uma pequena aula de alongamento e relaxamento corporal, em conjunto com a minha querida amiga Luísa Simões, na piscina de água aquecida, no topo do hotel, com as montanhas como testemunhas. Acho que foi um desafio superado e que a todos agradou.

O nascer e o pôr-do-sol nesta montanha é algo que ficará retido na retina, de todos nós, por muito tempo!

Periyar

No percurso que começou nas montanhas de Munnar em direção a sul, para Peryar – local onde existe o parque natural mais antigo da Índia e que nós tivemos o prazer de visitar e sentir a vida selvagem, pudemos observar como a paisagem se transformou. A estrada de montanha, que percorremos, possui uma série de paisagens incrivelmente bonitas. Sobe gradualmente no início e depois transforma-se em voltas apertadas, avançando através das grandes plantações de Cardomomo.

Carmelia Haven foi o local elegante e ecológico escolhido para uma visita e almoço. Situado no meio de uma plantação de chá e de cardamomo, aqui convivemos com as dezenas de trabalhadores que com a sua simplicidade nos tocaram na alma e comungamos com os encantos esplendorosos da natureza. Esta zona de Thekkady é a maior produtora mundial de cardamomo de qualidade premium. Na visita à plantação, percebemos como é todo o processo desde a plantação à colheita das diferentes especiarias. Aqui além do cardomomo, conhecemos pimenta ( que dependendo do grau de maturação e do processamento se transforma nas pimentas que nos são familiares – pimenta branca, preta, verde), noz moscada, canela, curcuma, gengibre,cravinho… e outras tantas que não me lembro, porque a memória me atraiçoa.

O amigo do Luís Baião, Jiju James recebeu-nos de forma apaixonada, como se todos nós fossemos também amigos dele de longa data. Aqui até tivemos a impressão que toda a natureza se preparou para nos receber com o canto dos pássaros, o espreitar curioso dos esquilos, as fragrâncias sedutoras das especiarias, das folhas de laranjeira mandarina, das papaias, … Intenso e interessante tudo o que sentimos e experienciamos. No final da visita, todos juntos plantamos uma árvore, para assinalar a nossa passagem por este paraíso e para deixarmos um pouco do nosso amor, naquele local que nos acolheu tão bem. Plantamos todos juntos uma amoreira indiana, que irá crescer e frutificar com a energia de todos nós, tal como as amizades que aqui se plantaram e que já crescem juntas.

O Periyar National Tiger Reserve é um santuário da vida selvagem, localizado em Thekkady, Kerala. É muito famoso como reserva de elefantes e de tigres. O parque abarca uma extensão de 357 milhas quadradas e integra dois dos principais rios, o Pamba e o Periyar, o que ajuda a flora e fauna a prosperar nesta região. O parque fica mesmo no meio das colinas de cardamomo e inclui um reservatório de água, que fornece água durante todo o ano para a vida selvagem.

O Safari, como nós fizemos, é a melhor forma de conhecer o parque nacional. O safari de barco no Lago Periyar é uma das formas de poder ver animais selvagens, no seu habitat natural, como cervos, lontras, tartarugas, diversos pássaros, elefantes e até mesmo tigres, sem interferir. É claro que precisamos de uma pitada de sorte, para avistar todos estes animais, pois eles têm a sua dinâmica e não estão à espera que a gente passe. Mas uma coisa é certa, só navegar neste lago, com toda a sua quietude, já nos satisfaz e alimenta os sentidos e a alma.

Um dos almoços, nestes dias em Periyar, foi num local que eu adoro. Um local de gente simples com um grande coração e boa mão para a cozinha. Foi aqui que aprendi a fazer os famosos Naan (podem ver a receita no meu primeiro livro – “Viagens da Comida Saudável”). Atrevo-me a dizer que é o local com os melhores naan da Índia! (para mim claro!) Não resisti e, como me sinto em casa, além de escolher a refeição, coloquei as mãos à obra e estive a ajudar a fazer o melhor pão indiano que conheço, cozido em forno de lenha. Uma verdadeira delicia para todos os sentidos!

Tivemos também a experiência de fazer um reconhecimento da região, com pessoas locais, pela montanha e que nos manteve deslumbrados com toda a beleza. Passamos por locais que somente de jipe é possível e avistamos elefantes selvagens andar pela montanha. Mais um mito desfeito na minha cabeça. Eu não imaginava que os elefantes andassem tão alto nas montanhas, sempre os imaginei em paisagens planas e com água perto. Estamos sempre a aprender. Por falar nisso, aprendemos a diferenciar diversas qualidades de café que aqui se produzem e como é a planta. Observamos locais a secar as suas bagas de pimenta. Passeamos na cidade, visitamos lojas de especiarias e adquirimos o que mais nos atraiu.

 

Alleppey

A viagem continuou com o grupo cada vez mais unido, as amizades entrelaçaram-se cada vez mais e cresceram. A vida é isto quando nos permitimos Apenas Ser. Estou grata a todos por tanta alegria e carinho que partilhamos.

Deslizar pelas águas de Alappuzha, entre os seus arrozais, nos canais, trouxe muitas recordações. Foi aqui que eu e o Luís Baião casamos, num belo pôr do sol, como já vos tinha dito.

Alleppey, é a sede administrativa do estado de Alappuzha, distrito de Kerala, no sul da Índia. A Alappuzha é considerada a cidade mais antiga nesta região. Uma cidade com canais pitorescos, remansos, praias e lagoas, que foi descrito como  a “Veneza do   Oriente” por Lord Curzon. Assim, é conhecida como a “Capital Venetian” de Kerala. Apesar de a língua oficial ser o Hindi, o Malayalam é a língua mais falada, ou antes o dialecto, aqui na região de Kerala.

Navegar e dormir nas casas flutuantes foi simplesmente mágico e indescritível. A tripulação foi fantástica e a comida, já faltava falar dela, simplesmente divinal. A forma de cozinhar desta zona é das minhas favoritas. É muito simples e com sabores distintos e super intensos.

Acordar com o nascer do Sol, nas House Boats ao longo dos arrozais foi simplesmente divino. Todos acordamos cedo. Todos observamos em silêncio as actividades e o mundo que acordava à nossa volta. Nessa altura até me surgiu um pensamento curioso. Acordar! Se separarmos as silabas temos A COR DAR, que é o que o sol faz quando incide com a sua luz em cada ponto que toca! Mágico!

A vida é linda quando vivemos o todo na diversidade. Dormir flutuando as águas dos arrozais e acordar neste local, sentindo a natureza, acordar com ela novamente, foi algo indescritível.

Observar toda a dinâmica ao longo dos canais, a vida destas gentes tão diferentes da nossa realidade, a forma como nos tratam e o que nos fazem sentir deixaram as emoções ao rubro e um brilho no olhar de cada um de nós.

Marari

Aqui sentimos o mar. O Oceano Índico que banha esta praia de areia fina. Esta praia é somente uma das cinco melhores “Praias de Hammock” do mundo pela National Geographic. Aqui, neste local “secreto”, albergamo-nos num eco-resort, muito familiar, que para mim é dos melhores, pois combina simplicidade, glamour, natureza e relações humanas. É a combinação perfeita.

Neste refúgio simples, orgânico, reconfortante e privado sorrimos com gratidão por esta dádiva. Neste local temos uma pequena plantação de mais de 30 variedades de bananas e uma pequena horta biológica. Estamos entre a terra e o mar, partilhamos história e toda uma cultura piscatória e religiosa que se vive nesta zona.

As diversas vivências que experimentamos ao longo desta viagem, deixam-nos preenchidos de tão intensas que foram. Como alimentação é algo que adoro e as viagens inspiraram-me para o meu primeiro livro – o “Viagens da Comida Saudável”, não podia deixar de mostrar em viagem a forma como “entrei” pelas cozinhas do mundo e me fui inspirando. O showcooking de comida indiana, consciente e natural, comigo e com o chef Saneesh, aka Sanish e os seus cozinheiros ajudantes foi um sucesso. Fizemos dois pratos vegan típicos da Índia. Um foi uma masala suave de vegetais (couve flor, cenoura e feijão verde) – Subzi Panchamel. O outro, um salteado com côco e “Lady fingers” (quiabos) – Vendakka Mezhukkuperatti. Apesar dos nomes difíceis de soletrar, ambos estavam excelentes. Durante o showcooking fiz a ligação com o nosso país e quais as alterações a fazer para as receitas serem mais locais e sazonais. Tudo muito simples e natural.

Já na recta final, o grupo estava feliz, unido, grato e embriagado com tanto amor e carinho que sentem uns com os outros e com este povo maravilhoso. Soube bem, neste final de viagem, sentir isso mesmo. Foi uma genial viagem de partilha e gratidão, cheia de vivências intensas e aprendizagens. A Índia Sul tem este efeito quando nos permitimos mesclar com as suas gentes. Seja qual o local, fomos sempre recebidos com muito amor, autenticidade e simplicidade.

A visita a uma escola local foi obrigatória para alguns de nós. Poder contribuir com o nosso tempo e a nossa possível ajuda, para melhorar a vida destas crianças foi muito gratificante. As crianças são sempre crianças. Soube bem ver todo o carinho que recebemos e espontaneidade delas e de toda a escola. Foi uma experiência intensa, emotiva e terna. Apresentamos-nos, cantamos para elas e elas para nós e a partir daí não existem palavras para descrever esta experiência. Foi tão bom brincar com elas e sentir que essa energia ainda habita dentro de nós.

Visitamos igrejas cristãs e católicas, templos hindus, portos de pesca, mercados, fizemos viagens de tuk-tuk no trânsito peculiar da Índia, visitas a escolas, aulas de yôga, meditação, massagens, convívio, palestras, assistimos a uma missa cristã em dialecto local, observamos o trabalho árduo dos pescadores, plantações de tudo o que por aqui cresce… Aprendemos tanto! Crescemos tanto! Tudo um pouco foi vivenciado nesta fantástica viagem. Terminando em Marari com um mergulho nas águas quentes do Oceano Índico, enquanto apreciamos um belíssimo pôr-do-sol.

São assim as viagens da Zenfamily. Intensas, transformadoras e com Alma!

Atreve-te a ser diferente!

Vive Consciente!

Daniela Ricardo