Primavera – Alimentação Consciente e Natural
A alimentação alinhada com as estações do ano, é algo que me faz todo o sentido, por ser uma boa forma de nos ajudar a adaptar ao local onde vivemos e com isso trazer mais vitalidade e energia à nossa vida.
A Natureza, de uma forma natural, oferece-nos os alimentos que são importantes ingerir nas diferentes épocas do ano.
A Primavera é para mim uma estação mágica.
Surge após estação “adormecida” e fria. Sente-se no ar a energia do despertar de um longo e recuperador sono. A temperatura climatérica começa lentamente a subir.
As árvores até então adormecidas mostram os seus rebentos, os campos enchem-se de flores, tudo fica mais verde. Alguns animais começam lentamente a regressar da sua longa viagem, enquanto outros começam a sair dos seus ninhos.
Esta é uma estação com uma energia ascendente.
Tudo brota e cresce em direcção ao céu. Acordamos mais leves, respira-se no ar uma energia mais ligeira, o tempo está um pouco mais quente, anunciando que o Verão vem a caminho. A Natureza prepara-se então para um novo ciclo.
Nós, como parte integrante dela, também nos devemos preparar para o novo ciclo, alinhando-nos para tal, com tudo o que nos envolve!
De acordo com a medicina tradicional chinesa, a energia associada a esta estação é ascendente e os órgãos mais sensíveis e associados a esta energia primaveril são o fígado e a vesícula biliar.
Quando estamos em equilíbrio, ficamos imbuídos de simpatia, tranquilidade e imaginação – sinal que estamos alinhados com a Natureza.
No entanto, quando o ciclo não se completa de forma harmoniosa, o nosso corpo dá o alerta. Irritabilidade, depressão e confusão, são emoções que podem surgir nesta altura do ano e sem razão aparente. Este pode ser o sinal de que o fígado e ou a vesícula não se encontram em equilíbrio.
Já reparou que quando vemos alguém zangado sem motivos aparentes, ou facilmente irritável pensamos “que maus fígados, ele tem!”. De facto, o nosso fígado é o órgão que controla as emoções como a ira e a zanga.
A forma mais directa e imediata de ajuste do nosso corpo, mente e espírito é através da comida!
Através dela vamos ajudar o nosso corpo a aproveitar a energia da Primavera e a lidar tranquilamente com esse jorro de energia “positiva” que a Terra emana e que os nossos sentidos captam.
Na cozinha devemos adaptar os métodos culinários.
Estes devem ser mais leves, menos condimentados e com maior utilização de produtos fermentados (como a chucrute e os pickles) do que durante o Inverno.
Os métodos culinários a dar mais ênfase deverão ser os salteados, os germinados, os cozidos no vapor e os escaldados. Estes são métodos culinários que contêm em si uma energia ascendente, mais leve que os assados e os longos cozidos do Inverno.
Por serem mais rápidos, a energia que nos transmitem é também indutora de maior disponibilidade e frescura física e mental, tão necessária para “sairmos da hibernação” e entrarmos na Primavera.
Os alimentos que escolhemos também têm importância.
No que diz respeito a cereais, na Primavera devemos dar mais ênfase à cevada, um cereal importante para eliminar as gorduras consumidas no Inverno e levar a um bom funcionamento do nosso fígado, pois ajuda a limpar e a desintoxicar.
O trigo é também um cereal de relevo nesta estação porque beneficia o fígado, tonificando-o. Apesar destes dois cereais estarem destacados, todos os outros podem e devem ser consumidos. O verdadeiro equilíbrio está na variedade.
No que respeita a fruta e legumes é sempre fácil. O segredo é, escolher os que são da época, dando algum destaque à escolha de rebentos (germinados), pois representam por si só o elemento desta estação.
Legumes que encerrem em si uma energia ascendente, característica da Primavera são por exemplo o alho francês, os brócolos e o cebolinho.
Os vegetais verdes devem ser consumidos todo o ano, visto serem essenciais para o bom funcionamento do nosso organismo, particularmente do fígado, estando também em destaque nesta estação.
Cada estação tem um sabor predominante a que se deve dar um pouco mais de realce. Na primavera é sabor ácido, que se obtém em alimentos como sumo e raspa limão, vinagres, pickles, choucroute, etc.
A quantidade de comida ingerida deve começar a ser menor.
Isto para que o fígado saia do processo de digestão ainda com muita força, fazendo-nos andar de bom humor e vontade de explorar o mundo.
As flores são também algo que nos levam de imediato para a energia da Primavera. Existem muitas flores comestíveis que podemos e devemos usar. Faço apenas uma ressalva, para o tipo de flores que usa. De preferência use flores de plantas que foram cultivadas para aplicação gastronómica, ou que sejam silvestres.
As flores ornamentais não são adequadas para a alimentação, porque possuem muitos químicos e pesticidas que são extremamente prejudiciais ao nosso organismo.
As pétalas contêm compostos fenólicos (conhecidos pela ação antioxidante e anti-inflamatória) e flavonoides, que têm efeito anti-inflamatório, antimicrobiano e antiviral.
Na Primavera, as mais comuns e de sabor doce são os amores-perfeitos e as violetas, e de sabor amargo, os crisântemos. Passando levemente pelo sabor ácido, mais benéfico nesta estação temos as begônias e calêndulas e, de sabor picante, as lindas e abundantes capuchinhas.
Fica aqui uma receita fresca e saborosa, que aprendi numa das viagens à Índia e que podem encontrar no meu livro “Viagens da Comida Saudável”. Fresca e cítrica como a estação merece.
Arroz Limonado
Esta é uma receita muito popular na Índia sul, e servida em quase todos os locais por ser fácil de fazer. É muito agradável, quer no sabor, quer no aroma. Pode ser feita com arroz acabado de cozer, ou com arroz que tenha sobrado.
Ingredientes:
- 3 chávenas chá de arroz agulha integral cozido;
- sumo de ½ limão;
- raspa de 1 limão;
- 1 colher de chá de sementes de mostarda;
- 1 colher de chá de curcuma (açafrão);
- ¼ de chávena de chá de nozes;
- 3 colheres de sopa de azeite.
Preparação:
Se ainda não o fez, comece por cozer o arroz. A proporção é uma chávena de arroz para duas de água. Se está a cozinhar arroz integral, como sugiro, o ideal é que tenha ficado de molho pelo menos quatro horas. Mas se não o fez, coza-o mesmo assim.
Coloque o arroz na panela, a quantidade correspondente de água, e uma pitada de sal marinho. Quando começar a ferver, tape e reduza para o mínimo até estar cozido. Assim que estiver pronto, coloque num recipiente frio para que arrefeça e não continue a cozer.
Agora que já temos o arroz, numa sertã ou frigideira (nunca sei que termo utilizar de tão dividida que ando entre o norte e o sul), toste as nozes devidamente descascadas e partidas até ficarem douradas e reserve.
Aqueça o azeite numa panela, ou na mesma sertã, e adicione as sementes de mostarda. Assim que começar a crepitar, acrescente o açafrão, as nozes e a raspa de limão. Reduza o lume, para não queimar.
Adicione o arroz, envolva bem. Tempere com o sumo de limão e envolva bem novamente. Desligue e deixe o arroz repousar tapado, durante 5 minutos, para que os sabores se integrem.
Está pronto a servir, acompanhado por dahl, massala seitan, palak tofu ou o que mais lhe aprouver.
Como a estação em destaque é a Primavera, não se esqueça dos vegetais verdes salteados ou cozidos no vapor.
Dica: acrescente às sementes de mostarda uma colher de café de sementes de coentros e sirva com raspas de limão, fica ainda mais aromático.
Atreve-te a ser diferente! Vive consciente!
Daniela Ricardo